Naquele dia a sala de aula estava cheia. Algo difícil de se ver em turmas de alfabetização de jovens e adultos.
O professor radiante, seguia seu trabalho, explicando, as vezes brincando, até que ele chegou.
Todo mundo parou para ver. Era o marido de uma aluna. Vinha do rio com uma sacola na mão e pelo jeito, havia tomado umas e outras por lá. Com cara de poucos amigos, ordenou à sua mulher:
- Vamos embora! Precisa limpar este peixes que estou com fome!
Sem parar de escrever, e numa calma estranha, respondeu:
- Não vou. Vou quando acabar a aula!
Dava para sentir o nervosismo do professor com aquela situação. O que poderia fazer? A apreensão tomou conta de toda a sala. Todos esperavam para ver qual seria o desfecho daquela história. Será que ele teria coragem de bater nela ali?
- Vamos embora Lúcia! Disse ele asperamente, quase gritando, com uma voz um pouco embaçada.
Ela sequer levantou o rosto. Continuava fazendo sua atividade.
- Vamos embora... como se a advertisse. Mas nada. Ela não se movia.
Na porta, a cara carrancuda, uma expressão estranha. Ninguém falava nada, nem mesmo o professor.
Em um rompante, o homem invadiu a sala. Alguns alunos se levantam prontos para derrubá-lo caso ele fosse agredi-la.
Para a surpresa de todos, ele jogou com força a sacola de peixes em cima da mesa que Lúcia compartilhava com outras alunas. A sacola fina, rasgou-se e peixes pularam para todos os lados como se ganhassem vida, sujando as alunas que estavam mais próximas e se espalharam pelo chão. Lúcia não se movera. Estranhamente, continuava escrevendo, cabeça baixa.
Apenas depois de muito as colegas insistirem que ela o acompanhasse com medo do que ele poderia fazer, enfim levantou-se.
Apanhou os peixes espalhados e se foi.
Agora, o professor tentava com esforço retomar sua aula.
Lúcia nunca mais voltou.
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